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O SORRIS sabe que...
...o anuncio que está a ser utilizado por uma famosa marca desportiva, que mostra alguns jogadores do futebol europeu a dirigirem-se para Portugal de lambreta, a fim de participarem no Euro 2004, foi baseado numa aventura levada a efeito por dois ilustres Sardoalenses que decidiram um dia ir a Lisboa ver um jogo de futebol.
Tudo começou numa animada noite no bar dos Bombeiros de Sardoal , depois de várias rodadas de minis, eis que o Saboga desafia o Taborda em relação ao resultado do jogo Sporting / Benfica :
(Devo referir para os leitores que não conhecem o Taborda que ele troca o "c" pelo "t" nas palavras que diz.)
SABOGA
Atão Taborda , quem é que vai ganhar o jogo do próximo fim-de-semana?
TABORDA
O Sportem tlaro!
SABOGA
Como é que sabes? Tu nunca foste ao estádio!
Cá p´ra mim ganha o Benfica!
TABORDA
Nunta fui? Fui ao velho e agora vou ao novo ver este jogo!
SABOGA
Atão e como é que vais?
TABORDA
Nem te vá de mota.
SABOGA
Tu não digas isso duas vezes!
TABORDA
Vou de mota e vou de mota!
SABOGA
Ó Taborda mas isso é um ganda desafio, já viste a gente a chegar de mota ao Estádio de Alvalade?... Não, é melhor não, ainda nos robem as motas, os gajos lá são brutos para vender ás peças!
TABORDA
Não robem nada! A gente estanciona as motas na garagem do estádio, os gajos têm lá tameras de filmar , tontrolam atilo tudo!
SABOGA
Fica combinado, eu vou arranjar os bilhetes, saímos ás seis da manhã de minha casa no dia do jogo.
Perante a incredibilidade dos restantes Bombeiros que presenciaram esta conversa, Taborda e Saboga saíram do quartel decididos a realizar esta fantástica aventura.
DIA DO JOGO
Taborda sai de casa pouco antes das seis da manhã na sua maquina, equipado com capacete integral e com a capa para a chuva, leva ainda um saco com a bucha e duas garrafas de tinto do Pouchão.
Chega ao poço da Ratinha ,e vai chamar o Saboga.
TABORDA
Saboga, vamos embora, vens ou não vens?
Saboga vem à varanda e responde:
SABOGA
Vou já, apanha aí o meu saco e a bola!
TABORDA
Uma bola, para te é te tu levas uma bola?
SABOGA
É prá gente se entreter com o pessoal que encontrar-mos pelo caminho!
TABORDA
Agora vamos parar nas bombas tê tenho t`atestar!
Quando chegam à estação de serviço de Sardoal deparam-se com a presença de pessoal de Alcaravela, Cabeça das Mós, Valhascos, Entrevinhas, Andreus e até da Venda Nova, que ao tomarem conhecimento desta fantástica aventura, decidiram alinhar também.
TABORDA
Ó Saboga, atão eu pensava ta gente ia-mos sozinhos!
SABOGA
Ganda surpresa pá, eu sabia que isto era uma boa idéia, olha aproveitamos e fazemos já uma peladinha aqui no parque das merendas.
TABORDA
Bora lá, mas eu téro jogar na parte relvada.
SABOGA
Tá bem, mas vê lá se não tropeças no sistema de rega automática!
Depois de várias fintas e reviengas, reuniram-se todos os conterrâneos para decidirem qual o melhor caminho a tomar para Lisboa.
TABORDA
Ó Saboga, tu tonheces o taminho?
SABOGA
Não te preocupes que eu trato disso ,Ó PESSOAL, TOMEM LÁ ATENÇÃO, nós com as nossas maquinas não podemos andar nas auto-estradas -o que é uma injustiça- mas vamos lá chegar, daqui vamos directo às curvas de Tramagal que é para aquecer os pneus, passamos Constância, Chamusca, Alpiarça e paramos em Almeirim onde vamos almoçar, há duvidas? Eu vi logo que não! Vamos embora!
Nesta altura já eram mais de vinte motorizadas a deslizar no asfalto em direcção a Lisboa, à passagem por Alferrarede só já eram dez, mas Taborda e Saboga lá continuaram a sua aventura na frente do grupo até chegarem a Almeirim.
TABORDA
È pá ,atelas turvas do Tramagal são difíceis, mas o mais tomplitado foi ao passar a Tonstancia, tom o fumo da fábrica não se via nada!
SABOGA
Ó pá, tira lá a capa da chuva que não está a chover e vamos mas é comer uma bela sopa de pedra, Ó PESSOAL, TOMEM LÁ ATENÇÃO, cada um vai comer onde quiser, eu e o Taborda vamos aqui ao Toucinho que é o mais tradicional! Há duvidas? Eu vi logo que não! Vamos embora!
TABORDA (durante a refeição)
Ó Saboga, isto afinal não é sopa de pedras, isto é feijoada!
SABOGA
Eles chamam a isto sopa de pedra porque houve um gajo qualquer que meteu uma pedra dentro de um tacho, andou por aí a pedir comida ao pessoal e depois fez uma sopa.
TABORDA
Atão e p´ra te era a pedra?
SABOGA
Sei lá, não faças perguntas difíceis e manda vir a conta!
TABORDA
Olhe, fachavor, traga aí a tonta!
SABOGA
Tenha calma amigo... ele estava a pedir a conta...
Perante tal aparato "motociclistico", rapidamente se divulgou em Almeirim a incrível aventura que os nossos concidadãos estavam a viver.
Foram então vários os ciclomotoristas locais a aderirem a esta viagem em direcção a Lisboa.
SABOGA
Ó PESSOAL, TOMEM LÁ ATENÇÃO, já que estes amigos decidiram juntar-se à gente para ir até Lisboa, vamos convida-los a fazer uma peladinha, Sardoal contra Almeirim, e pode ser já aqui na praça de toiros que é mais arejada, há duvidas?
Eu vi logo que não! Vamos embora!
Depois de varias fintas e reviengas , o Taborda remata forte para fora da praça e a bola acaba por cair dentro da caixa de um camião que passava na estrada nacional.
Desprovido da sua bola Saboga reúne os presentes para decidirem qual o melhor caminho a tomar para Lisboa.
SABOGA
Ó PESSOAL, TOMEM LÁ ATENÇÃO, temos que continuar, daqui vamos até Benfica do Ribatejo, os benfiquistas que quiserem parar podem parar, nem que seja para provar o tinto, depois passamos em Salvaterra, Benavente, Samora Correia e não se esqueçam que no Porto Alto temos que seguir em direcção a Vila Franca, a partir daqui vai o Taborda à frente que ele é que conhece o caminho, há du........
TABORDA (interrompendo Saboga)Ó Saboga mas tual taminho? eu não tonheço o taminho!
SABOGA
Cala-te, se eu disse-se aos gajos que não conhecia o caminho eles voltavam todos para trás.
Há duvidas? Abasteceram todos? Eu vi logo que não! Vamos embora!
Rasgando as vastas lezirias, os nossos cavaleiros do asfalto prosseguiram a sua viagem - excepto meia dúzia deles que ficaram em Benfica do Ribatejo a provar o tinto- à chegada a Vila Franca de Xira eram outra vez mais de vinte, eis que Taborda se depara com o problema de não conhecer o caminho.
TABORDA
E agora Saboga? O té te eu vou fazer?
SABOGA
Tem calma que eu resolvo o assunto! Isto arranja-se sempre uma solu... olha é o Rosa...
Ó Rosa...ó Rosa...péra aí que ele vem aí!
PAULO ROSA
O que é que vocês andam aqui a fazer?
SABOGA
Atão vamos a Alvalade ver a bola.
PAULO ROSA
E vêm de motorizada?
TABORDA
O té tu téres, apostas são apostas!
SABOGA
Ó Rosa, temos aqui é um pequeno problema, é que a gente não sabe o caminho para Lisboa, e estes vinte gajos vêm todos atrás da gente.
PAULO ROSA
Daqui é fácil, vocês seguem pela estrada nacional em direcção a Alhandra, passam Alverca, Forte da Casa, e na Póvoa de Santa Iria até é possível que encontrem o Conan que ele costuma andar por lá, depois seguem para Sacavém e é só seguir as indicações para a segunda circular até chegarem ao Campo Grande.
SABOGA
Obrigadinho ó Rosa, assim já vamos mais á vonta... ó Taborda aquele não é o camião que nos levou a bola? Vai lá ver da bola pá!
TABORDA
Ò chefe...ó chefe... té da bola?
Pois, pois, essa de Almeirim!
Obrigado ó chefe.
SABOGA
Ó PESSOAL, TOMEM LÁ ATENÇÃO, já cá temos a bola outra vez, vamos só fazer uma peladinha ali à praça de toiros e depois seguimos para o Campo Pequeno... ou será Campo Grande? Bem não interessa... há duvidas? Eu vi logo que não! Vamos embora!
Tchau ó Rosa a gente vê-se no bar dos bombeiros!
Depois de varias fintas e reviengas, o Saboga guardou a bola antes que o Taborda a fizesse desaparecer outra vez.
Seguindo a sua memória fotográfica, Saboga liderou o grupo até que...
TABORDA
Ó Saboga, olha, já andam ati a meter semáforos tomo meteram no Pisco e nas tuatro estradas!
SABOGA
Cala-te, isto já cá está há muito tempo, olha lá, aquelas placas estão a fazer-me confusão, o Rosa disse para a gente ir para Sacavide ou Moscavém?
TABORDA
Atão ele não falou na segunda cirtular? Tá ali uma plata te diz segunda cirtular!
SABOGA
É isso mesmo, vamos por ali!
Finalmente os nossos aventureiros chegam ao Estádio de Alvalade.
SABOGA
Taborda? Onde é que tu dizes que são as garagens?
TABORDA
Sei lá, eu só as vi na televisão! Olha vamos mas é beber umas minis ali natela relote e depois perguntamos.
Tou cheio de sede e tom fome!
SABOGA
Ò PESSOAL TOMEM LÁ ATENÇÃO, cada um vai comer onde quiser , eu e o Taborda vamos aqui a esta relote e depois vamos saber onde são as garagens para guardar as motas, há duvidas? Eu vi logo que não! Vamos embora!
Taborda pede aí comida e bebida p´rá gente!
TABORDA
Ó chefe... são duas minis e dois tachorros!
Ó Saboga o homem tá a tratar-me mal!
SABOGA
O que é que se passa? O meu amigo está a pedir dois cachorros!
Sim, dois cachorros e com tudo!
Olhe já agora pode dizer-me onde ficam as garagens do estádio?
Para ir para as garagens só com bilhete para o jogo?
Ai Taborda... eu esqueci-me dos bilhetes no Sardoal.
TABORDA
Eu vi logo tisto ia atabar mal!
Pois é, é por isto que o anuncio televisivo que falámos não acaba dentro de um estádio.
Decidimos não divulgar a aventura de regresso a Sardoal, por enquanto...
Paulo Rosa
Ficção publicada às
8:13 p.m.
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PROJECTO PARA UMA ROTUNDA
Agora que vamos ter uma rotunda como cartaz de entrada no Sardoal podemos finalmente começar a projectar qual a edilidade/personalidade a homenagear em tão nobre espaço público.
Várias foram as localidades visitadas no sentido de procedermos a um estudo elaborado por uma comissão (como não poderia deixar de ser) que teve como prazo de entrega justamente o mês emblemático de Abril.
Após enumeras cogitações, surgem para estudo várias hipóteses que em seguida exponho:
.JOLI» rafeiro para poucos, distinto para muitos, esta é porventura a hipótese mais popular entre o Lagarto mais ALTERNATIVO, companheiro de noite e folia, seria o símbolo de que no Sardoal respeitamos até os da raça canina. Daria uma imagem contudo autoritária, pois o busto imponente de um cão poderia ser associado aos cães guarda, terra por isso vigiada pelos mesmos, sujeita a rusgas e coisas assim do género.
.Dr. Little Bird» personalidade distinta, conhece como ninguém os podres deste Concelho, conviveu com os mesmos durante anos a fio, que constantemente tocavam à sua campainha sempre esperando um acto de caridade. Construiu obra pessoal, sendo contudo a obra colectiva aquilo que mais pode tornar esta opção como rejeitável.
.Bustos dos Presidentes de Câmara» hipótese com forte componente estética, sendo os mesmos elaborados por artistas plásticos do Concelho. Seriam à posteriori colocados nos limites da circunferência, sendo que para uma melhor observação pelo comum condutor, este teria de dar uma voltinha (quem é que não gostaria). Tem o inconveniente de os bustos ao serem colocados nas extremidades da rotunda poderem ser alvos de abalroamento, pois existem alguns jipes dotados de equipamento de série especializados para atravessarem rotundas, e era sempre mau a cabeça de algum ser arrancada/danificada.
.Repuxo Fontanário» ajudava a disfarçar os problemas deste concelho do interior e ao mesmo tempo dava uma oportunidade de mostrar a água directamente canalizada da Lapa, antes de sofrer tratamento para dar um aspecto mais rústico à coisa através das substâncias corrosivas de que é dotada.
.O Pastor» inspirado no Soldado Desconhecido, esta seria uma homenagem sentida aos que dedicaram a sua vida à pastorícia, num modo de subsistência e que lhes permitiu sobreviver impunemente à falta de iniciativa privada. Dada a imaginação fértil das gentes deste concelho, o lado menos positivo pode ser visto como uma metáfora: o pastor e o seu rebanho, educando-o, dado-lhe de comer, restringindo-o, confinando a sua liberdade à sua propriedade, mansinho, etc.
.A KABRA LAGARTA» não, não é uma homenagem às descobertas e experiências no campo da genética. Seria uma carta de apresentação ao turista de que as mulheres do Sardoal recebem como ninguém, sempre dispostas à folia, não ligando muito aos sentimentos, fazendo jus àquilo que hoje se chama de “independentes” na política mas com uma forte aplicação à vida privada. Com a vela içada no mastro vão ao sabor das correntes. Aqui o rural ficava de certo bem patente, constituindo o primeiro vértice da candidatura para o salvamento da espécie KABRA LAGARTA.
Bruno Costa
NOTA: O Marquês da Vidigueira foi considerado mas como mera hipótese académica.
Ficção publicada às
5:27 p.m.
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